A iniciativa, que contará com financiamento de meio bilhão de dólares – a maior parte bancada pelo Fundo de Investimentos Públicos da Arábia Saudita – e que se enquadra no plano econômico 2030, “não é a primeira tentativa de superar os obstáculos das leis locais”. Em agosto, a Arábia Saudita anunciou um grande projeto turístico nas ilhas do Mar Vermelho, que terá a própria legislação, conforme “as práticas e experiências mundiais”, disse à época o príncipe, sem dar mais detalhes.

Essas pinceladas de abertura do reino, onde vigoram leis rígidas, principalmente para as mulheres, se mostram por meio destes megaprojetos desde que foi o jovem Bin Salman, de 32 anos, foi nomeado herdeiro à coroa. Na terça-feira passada, o príncipe afirmou em uma conferência com cerca de 2.500 investidores – incluindo representantes estrangeiros -, que o país começou um processo de retorno ao “islã moderado e aberto ao mundo e às religiões“, e mostrou o

seu desejo de acabar com o extremismo. “Não vamos perder outros 30 anos tratando ideias radicais. Queremos conviver com o mundo e acabar com os resquícios do extremismo”, afirmou.

O jovem herdeiro se referia ao ataque que grupos extremistas fizeram na Masjid al-Haram, em 1979, e que foi chamado de Tomada da Grande Mesquita, quando a Arábia Saudita abandonou o islã “moderado” e se aprofundou nas correntes religiosas. “É um estranho paradoxo que o príncipe volte aos anos 70 para avançar”, comentou o analista, lembrando que antes dessa data as mulheres não eram obrigadas a usar as tradicionais túnicas pretas – as abayas – e as apresentações de música eram permitidas, por exemplo.

Segundo o príncipe, esse projeto transformará o reino num modelo pioneiro e global em todos os aspetos, com o objetivo de atrair cadeias de valor às indústrias e tecnologias.

Para Abdulrahman Yarala, membro da Câmara de Comércio e Indústria da Arábia Saudita, grandes projetos urbanísticos começam no pensamento e se tornam realidade com a energia depositada pelo homem. “A Arábia Saudita tem capacidade material e logística para atrair especialistas e profissionais e tem orçamento suficiente para realizar este projeto, que se estenderá por 26.500 quilômetros quadrados, junto ao Mar Vermelho e o Golfo de Aqaba”, destacou.

Lá será o ponto de partida da futura Ponte Rei Salman, que pretende ligar a Arábia Saudita com a Península do Sinai, no Egito e que, de acordo com o príncipe saudita, será “maior do que a Grande Muralha da China, mas com placas solares” e onde haverá “mais robôs do que pessoas”.

Diante desses projetos, Yarala lembrou o caso de Cingapura, que há décadas era uma ilha “deserta e atrasada”, e agora, “é um exemplo de avanço e prosperidade”. Para ele, a Arábia Saudita tem inclusive condições melhores, já que é um país rico, com localização estratégica, terrenos amplos e capacidades diversas.

Conforme explicou, o país carecia de “administração, insistência e valentia”, mas agora o novo príncipe veio para defender esses valores e apostar na “nova geração saudita”. “NEOM transformará o reino num país de primeiro mundo, com muitas ofertas de emprego e que permitirá ser um lugar inovador e acessível, como disse o príncipe herdeiro”, defendeu Yarala.(VEJA.com)

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