"No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras", relatou.

"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, [a mesma pessoa] afirmou que queria divulgar o material por ele recolhido para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza", acrescentou D'Ávila, candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.

Ela disse que chegou a suspeitar que as mensagens fossem uma armadilha de seus adversários políticos e limitou-se a repassar o contato do invasor para Greenwald.

"Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald", explicou a ex-candidata.

"Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco à inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho 

celular a exame pericial", concluiu D'Ávila.

Contato de Manuela D'Ávila

Em seu depoimento, Delgatti que teria conseguido o telefone de Manuela D'Ávila na lista de contatos do Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele ligou para Manuela no Dia das Mães, em 12 de maio, pedindo o número do jornalista.

"A princípio Manuela d'Ávila não estava acreditando no declarante, motivo pelo qual fez o envio para ela de uma gravação de áudio entre os procuradores da República Orlando [Martello Júnior] e Januário Paludo", diz o depoimento. Depois disso, Delgatti teria recebido uma mensagem de Greenwald, que disse ter interesse público no material.

Segundo a Folha de S. Paulo, pela legislação brasileira, a omissão sobre um ato ilícito não é crime. Mesmo que soubesse que o hacker tivesse cometido um crime, a ex-deputada não precisaria denunciar 

o caso às autoridades.

D'Ávila também não cometeu nenhum ato ilícito ao intermediar o contato entre Delgatti e Greenwald. "Segundo o entendimento jurídico, também não consiste ilicitude o fato de ela ter intermediado o contato entre Delgatti e Greenwald", apontou o jornal.

Delgatti negou ter manipulado as mensagens e disse que acredita não ser possível alterar o conteúdo devido ao formato utilizado pelo Telegram. Ele afirmou que se comunicou com Greenwald de maneira virtual e repassou os arquivos ao jornalista pelo Dropbox, um serviço para armazenamento e compartilhamento de arquivos.

O escândalo

O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos no escândalo que começou em 09 de junho, quando o The Intercept Brasil e outros parceiros da mídia começaram a divulgar reportagens que colocam em questão a imparcialidade da maior operação contra a corrupção no país.

As reportagens apontam que Moro teria orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.

Se confirmadas, as denúncias indicam uma atuação ilegal do antigo magistrado e dos procuradores brasileiros porque, segundo a legislação do país, os juízes devem manter a isenção e, portanto, estão proibidos de auxiliar as partes envolvidas nos processos.

Moro e os procuradores da Lava Jato negam ter cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens do The Intercept e seus parceiros (Folha de S. Paulo, revista Veja, El País e o jornalista Reinaldo Azevedo), afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético.

Na terça-feira, a polícia brasileira realizou a Operação Spoofing e prendeu Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscilla de Oliveira e Danilo Cristiano Marques, após encontrar indícios de que teriam praticado pirataria cibernética contra autoridades do país.

Segundo os investigadores, além de Moro e dos procuradores da Lava Jato, o grupo hackeou celulares do presidente Jair Bolsonaro e de outras autoridades políticas, numa ação que teria interceptado comunicações de mais de mil pessoas.

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