A gravidez
Larissa não retirou o útero e, naquele mesmo ano, a sua menstruação atrasou. O atraso, para ela, seria apenas mais um dos sintomas do mioma. Porém, uma amiga insistiu que ela fizesse o teste de gravidez de farmácia. “Deu positivo! Na hora eu não acreditei e pensei que estivesse errado”.

Descrente do resultado, ela fez um exame de sangue que também confirmou a gravidez. Ainda não confiante com os resultados nos exames, Larissa procurou um médico e fez um ultrassom. “Na hora que ele começou o exame, o médico me disse que o mioma era muito grande e que não estava vendo nada na imagem. Ele também me disse que, se eu estivesse grávida, eu não levaria a gravidez adiante e que eu iria abortar naturalmente.”

Ainda com o misto da esperança de ser mãe que tinha cultivado com o choque da resposta médica, Larissa procurou ouvir uma segunda opinião. Duas semanas depois, ela ouviu de um médico que estava mesmo grávida. “O segundo médico fez o ultrassom e me disse que não tinha um embrião e sim dois! Eu quase enfartei nesse dia: eu pude até escutar o coraçãozinho dos meus filhos.”

Para o médico ginecologista, Maurício Ligabô Júnior, especialista em reprodução humana, o mioma é considerado grande a partir de oito centímetros e, seus efeitos durante a gestação, dependem da sua localização. "Quando a paciente com mioma engravida, os riscos gestacionais, que são o aborto e o parto prematuro, aumentam. O mioma pode pressionar o bebê e, com isso, ele pode nascer prematuro."

Depois de contar para a família, Larissa procurou uma médica especialista em gestações de risco que recomendou repouso. Com 12 semanas de gravidez, ela se assustou com um forte sangramento. Depois disso, a sua rotina de trabalhos e estudos teve que ser interrompida. “Eu trabalhava de dia e estudava Engenharia à noite. Tive que largar tudo e ficava de repouso em casa, sentada na cama o dia inteiro. A médica pediu repouso total. Uma vez por semana meu marido ou meu pai me levavam para passear, tomar um sorvete ou coisas assim. Eu tinha que ir de carro e, assim que chegava no local, eu tinha que sentar. Não podia fazer esforço nenhum. Eu moro num sobrado e evitava até de subir as escadas”, comenta.

Ligabô também comenta que, atualmente, cerca de 20% das mulheres desenvolvem miomas. Segundo o especialista, o mioma pode trazer riscos iminentes de aborto. "Se o mioma estiver dentro do corpo do útero, perto do endométrio, isso é um risco de aborto iminente. Se os miomas estão crescendo fora dessa área, pode ser que não haja problemas", comenta.

Em casos como o de Larissa, que precisou fazer tratamento radiotivo desde muito cedo, o fato de engravidar de gêmeos, para o especialista, ''é sorte''. "É interessante a paciente, quando tem o desejo de ser mãe, congelar os óvulos. Mas no caso dela que fez o tratamento desde pequena, foi sorte do ciclo ovulatório dela. Muitas mulheres que fizeram tratamento radioativo conseguem engravidar depois, mas existe sim o risco de ficar infértil. Nesses casos é preciso avaliar a capacidade ovulatória de cada mulher e o histórico familiar", explica acrescentando da importância da realização do pré-natal, principalmente em gravidez de risco.

Parto
Os nove meses de gestação seriam completados em julho de 2014, mas, como dificilmente a gestação de gêmeos chega até o final, a cesárea dos meninos estava marcada para 12 de junho. Em maio, aos sete meses de gestação, Larissa sentiu fortes dores e precisou procurar o médico. “Pensei que fosse os cálculos renais de novo, mas a médica me disse que eu estava com três dedos de dilatação. Fui para o hospital com a pressão muito alta e fiquei internada para fazer a cesárea, mas a minha bolsa estourou na recepção do hospital.”

Segundo os médicos, um dos gêmeos estava encaixado para nascer de parto do normal. Outro bebê estava atravessado no útero. Depois da cesárea, os bebês foram levados para a UTI neonatal e foi feita a cirurgia para a retirada do mioma. Enquanto isso, Larissa conta que sua pressão chegou a 4 por 3. “O mioma começou a sangrar depois da cesárea e eu precisei ficar mais duas horas na sala de cirurgia porque a equipe médica não conseguia estancar a hemorragia.”

Larissa perdeu muito sangue e precisou ficar internada por dez dias. Ela recebeu sete bolsas de sangue. Os gêmeos Lorenzo e Luigi também precisaram ficar internados na UTI neonatal por mais 16 dias.

Depois de vencidos os riscos da gravidez, ainda era preciso retirar o tumor da coluna. Um ano depois, a cirurgia foi feita e tudo ocorreu bem. Hoje os gêmeos estão prestes a completar dois anos. “Foi um milagre total! Quando eu pude pegá-los no colo foi um sonho... Demorei sete dias para poder ver meus filhos. É inexplicável a sensação de vê-los podendo crescer e saudáveis. A vontade que eu sinto é de abraçar e protegê-los do mundo inteiro.”

No primeiro ano de vida, a mãe acordava de noite “sem reclamar” para amamentar e trocar as fraldas dos gêmeos. Larissa dedica o seu dia inteiro para cuidar dos filhos e ainda não voltou a estudar e a trabalhar. “É maravilhoso! Ao mesmo tempo que é cansativo, todo o trabalho é recompensador. Sabe quando você está triste? Eles percebem, vem no meu colinho e me fazem carinho. Isso muda a minha vida.”

Para o seu 2º dia das mães, Larissa quer comemorar o “milagre” que recebeu. “Passa um filme na cabeça lembrando de tudo aquilo que eu passei para poder ter eles aqui comigo. Foi uma luta muito grande. Isso me fez entender que tudo tem seu tempo para acontecer”, finaliza.(Fonte:G1)

CONTINUE LENDO